Cada coisa que eu calo
Cada casa que eu cubro
em mim
Cada dia que eu deixo
Cada cílio que eu sopro
nela
É para deixar saudade
de fato
de trato
de caco
nosso
do meu
do dela
da gente
Eu disfarço
A não deixar rastro
Aí
Ali
Amém
(Lygia Mucci)
Sunday, July 12, 2009
Saturday, December 02, 2006
Tradução de Elias Kesington para Sem caminho de volta, de Roger Freston, contista e filósofo francês, morto em 76.
"The friendship. The value. The challenge. Sometimes a part of yourself is somewhere else. Sometimes the part you've been missing all your life. Being me, being you. Not to feel a complete world, feeling it in a movement, happening yet. Not to laugh alone, island in a dried desert. There's a sense. There are some dogs to trust in. Belief. Some cards to play with, some ugly smiles that can make me cry, happy, far from the floor where I stand. I believe in it - I was told to believe in me. Should I? There was a piece of bread on the grass, two birds sharing, thousands of people refusing each other in the name of a paradise. Can it be? Being already. Please, need someone to believe. A friend. A God. A writer. A lie. Need a clue to breath slowly. We're leaving, have to learn it. We're losing what we bring with us; someone's losing me. Could we be happy? I'd rather be my only friend, if there was ever another one. I'd rather be the small body for a yellow kite. I know: there's still some hope in the Mistakeland. Bless you, bless me - for what we've done, for adventures we were too weak to face. I admit: I grew up alone, lost in me, having a clear place among too many others. Others, not me. One day, when I'm high in the highest cloud in the sky, things here, down below, will look very small - that will be when I'll regret for the holy time given to stupid agreements."
Saturday, November 25, 2006
Sentado na primeira fila, Antônio observava com enorme atenção o contorno do bico dos seios de Renata Navarro, sua prima, na estréia de Duas saudades. "Ela sempre disse que seria atriz", pensou, sem saber o que queria ser, convencido de que essas coisas a gente nunca escolhe. "Estou sendo já - será que decidiram por mim?". Na saída, ainda na sala de espetáculo, quis saber da mãe o motivo para tanta nudez. ''É arte, meu filho, arte. É assim, não se preocupe, não". Não estava preocupado, de forma alguma. Só não entendia por que, em casa, Renata preferia trocar de roupa no escuro do banheiro. "Bonitos", continuou. Chegaram até a porta principal. Antônio demorou-se dois ou três minutos, o cartaz da peça. "Vestida".------Duas saudades, terceiro e último ato.Eli (abrindo os braços em direção à platéia): Abandono todas as saudades fora do corpo. Juntei pistas demais na minha vida e continuo desencontrada. Deixei os outros me vestirem; fui o desejo censurado de sempre. Não sei repetir, não posso dizer; entendo como um acidente. Acordei dolorida; sem roupa, diante do espelho, enxerguei um vestido de linho que nunca foi meu. Despida, me vi coberta do modelo dos outros. Daqui para frente, saio na rua, com medo; quero me refazer com a dor de quem se encontra no infinito do avesso.